quinta-feira, 13 de julho de 2023

- A vida dá voltas | Ep. #1

Ep. #1 - Surpresas

Angelina sentiu uma brisa leve na cara.

Abriu os olhos novamente, tinha-os fechado para evitar que as lágrimas lhe continuassem a escorrer pelo rosto.
A imagem que via, aquele céu estrelado, acalmava-a estranhamente. Como se estivesse a olhar para uma folha em branco, com muito espaço. Espaço vazio que agora representava uma infinidade de opções que poderia explorar, embora não se sentisse de todo pronta para isso.

Deitada na relva de um parque público, numa noite quente de verão, triste, magoada, confusa e ansiosa, ponderava o que fazer da sua vida, pois esta estava prestes a mudar radicalmente. Não fazia ideia do que fazer, estava a tentar manter-se otimista e calma. Devia estar em casa, mas ao passar no parque, achou melhor ficar por ali até secar as lágrimas.

Minutos antes, numa festa em casa da sua melhor amiga, tinha descoberto algo perturbador, ao encontrar provas irrefutáveis.

O facto de trabalhar na empresa da sua melhor amiga e ter casamento marcado para breve, complicava uma situação já, por si, conturbada.

Sentia que estava a perder os últimos quinze anos da sua vida e as melhores relações que tinha, com as pessoas que mais gostava no planeta. Perdia dois amigos: uma melhor amiga – que era a mulher da sua vida, e um namorado - que pensava ser o homem da sua vida. Iria também perder um emprego de sonho, como diretora comercial de uma empresa em expansão internacional, e anos de dedicação que a tinham trazido ao cargo com que tanto sonhou.

Não podia escolher ficar com um deles. Eles escolheram estar com a única pessoa que não podiam: um com o outro.

Três dias antes, tinha tido uma discussão feia com o namorado, o qual fora de viagem em trabalho (o que acontecia com frequência) e isso levou-a a querer estar mais tempo com a sua amiga.
Surgiu-lhe a ideia de organizar uma festa surpresa, para celebrar quinze anos de amizade e todas as aventuras que já tinham vivido, aproveitando para esquecer a discussão com o seu namorado.

Tendo a chave extra, foi fácil convidar amigos, preparar comida e bebida, deixar os amigos entrar em casa da amiga, e ter tudo pronto antes desta chegar a casa, depois de uma sexta-feira de trabalho.

Poucos minutos antes da chegada, decidiu ir ao quarto da amiga, para esconder um presente: um livro que tinha feito, que reunia fotos e histórias dos últimos anos. Na primeira página tinha um post-it, dizendo que tinha descoberto no dia anterior que estava grávida – algo que queria há muito tempo, e que queria a amiga como madrinha.
Ao procurar um sítio para esconder o presente, encontrou algo que iria mudar a sua vida estável e acomodada por completo: um teste de gravidez e um armário com roupas com roupas que reconheceu como sendo do seu namorado
.


O maior choque da sua vida.
Saiu de rompante, antes ainda da amiga chegar.

Caminhou com passos rápidos em direção a casa, enquanto chorava como nunca tinha chorado.
Ao passar por um parque público, decidiu parar, e deitar-se na relva.

Por instantes fechou os olhos. Alguns segundos depois sentiu uma brisa leve na cara. Abriu os olhos novamente, que tinha fechado para tentar evitar que as lágrimas lhe escorressem pelo rosto. A imagem que via, aquele céu estrelado, acalmava-a, estranhamente.

Poucos minutos depois sentiu que não estava sozinha. Apercebeu-se de que estava uma mulher sentada num banco, relativamente perto, a observá-la em silêncio.

“Quando achamos que somos felizes, passa uma brisa que não achámos possível e vira tudo do avesso. E mais para a frente, entendemos que ser feliz não tem uma definição só. E que podemos sempre ser mais felizes, de formas tão diferentes.” – murmurou a mulher, com uma voz calma e baixa.

Muito intrigada com a frase, começou a questionar esta pessoa inesperada e, ao fim de uns minutos, acabou por se sentar no banco ao seu lado, porque a conversa estava a ser bastante interessante e até um pouco terapêutica.

Falaram das suas vidas, caminharam, falaram dos seus problemas, entraram num bar, revelaram segredos, e beberam mais um copo.

Tudo parecia perfeito, algumas opiniões complementavam-se, outras nem por isso, mas a discussão de diferenças era saudável, sempre com muito humor e curiosidade à mistura.

Dançaram ao som de músicas que não ouviam há muito tempo, e subitamente, beijaram-se.

Mais uma vez, saiu de rompante. Desta vez só parou em casa.

Ao chegar, seguiu direta para a cama, enquanto ainda chorava, muito nervosa. Passaram horas até conseguir parar de chorar, o que só aconteceu por ter adormecido.

Que noite! Como iria conseguir enfrentar o dia de seguinte?

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